quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Manicoré e a 15 de Maio


As margens ou "beiradões" de importantes rios amazônicos escondem muitas histórias traduzidas por vestígios de antigas edificações que apontam para períodos de assentamento de povoados e vilas ribeirinhas e de seu temporário progresso frente às circunstâncias do comércio de produtos, via-de-regra, extrativista.
Circulando recentemente por Manicoré, sudeste do Amazonas, descobrí a rua 15 de Maio, espremida entre um monumental barranco que sombreia o rio Madeira nessa época de estiagem - verão amazônico. Ralo calçamento de pedras subarredondadas parcialmente recoberto pelo asfalto e traços de prédios com inscrições comerciais apagadas pelo tempo e esquecidas pelas gerações calypsianas e governantes apressados pelo poder. Para além, a matriz de Nossa Senhora das Dores, a padroeira do lugar.
Manicoré é a sede do município de mesmo nome e se situa na margem direita do rio Madeira, grande traço de águas barrentas que desembocam no Médio Amazonas, a jusante de Itacoatiara.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Barcelos - Pedaço da história do rio Negro (Amazonas)


Estive em Barcelos, Amazonas, sede municipal situada na margem direita do médio curso do rio Negro. Historicamente foi a capital do Amazonas até 1758 quando este ainda era conhecido como "Capitania de São José do Rio Negro". Barcelos vive principalmente do comércio de peixes ornamentais e da pesca esportiva, com destaque para o tucunaré. O município, criado em 1931, é o maior do estado do Amazonas e o segundo maior do Brasil. A sede dista aproximadamente 500 km da capital Manaus pelo rio Negro, curso fluvial que no trecho do município contém o arquipélago de Mariuá, o maior do planeta. Ao norte faz limite com a Venezuela (serra Tapirapecó), faixa fronteiriça também ocupada pela Área Indígena Ianomâmi. As seguintes unidades de conservação se encontram no domínio do município: Parque Nacional do Jaú (parte), Floresta Nacional do Amazonas, Parque Estadual da Serra Aracá e Área de Preservação Ambiental do Mariuá. Lugar encantador para quem quer estar com a natureza, aqui em abundância.



domingo, 6 de dezembro de 2009

Dealing with the Jungle


Caramba! Foram alguns dias de operação com helicóptero na floresta, onde fui lançado em clareiras abertas por mateiros habilitados ao rapel. A partir delas saímos caminhando pela selva à procura de rochas. Foram muitos os vales e drenagens percorridos, muita sola de sapato gasta e muita adrenalina!

A gente adquire momentos de solidão e abandono quando o helicóptero se vai, retornando apenas no final do dia para o resgate.

E você caminha apenas com um auxiliar que corta o mato sob sua orientação de rumo a seguir. Utilizo bússola e um GPS. É ele que me orienta e corrige os desvios da bússola. É um amigão na selva. O deixo ligado o tempo todo e dificilmente perde o sinal do satélite.

Carregamos uma pequena marreta para extrair pedaços de rocha, uma bateia e uma peneira (suruca) para coleta de sedimentos em igarapés.

Recordo-me que há muitos anos atrás não possuíamos GPS e nossa orientação era penosa e nem sempre precisa. Utilizávamos telêmetros e fotografias-aéreas. O relevo, por vezes muito acidentado te leva naturalmente a realizar desvios através da vegetação mais densa e entrelaçada por cipós, além de grandes árvores que um dia tombaram pelo vento e arrastaram tantas outras juntas. Sem falar nas áreas alagadas (chavascais) onde você chafurda o pé em uma lama negra de desconhecida profundidade. Alguns pássaros piam ou cantam em um lamento que só a selva compreende. Nos chavascais dá para se ver pegadas de onça, anta e queixada. Sempre aguça a expectativa para o adiante.

Por vezes bandos de macacos lançam pedaços de pau e gravetos em quem se atreve a atravessar seu território.

A roupa fica inteiramente molhada de suor, em grande parte pela umidade que a floresta transfere para você.

E hoje tem rodada final do Brasileirão. Mas eu já me sinto um campeão!




segunda-feira, 27 de julho de 2009

Garrafa em forma de torpedo da Ross e sua relação com áreas de seringais e comercialização do Amazonas (áreas Jaú e Aripuanã)





Nos anos de 2006 e 2007, em atividade geológica pelo Serviço Geológico do Brasil, em especial no rio Jaú, um afluente da margem direita do rio Negro, e rio Aripuanã, um afluente da margem direita do rio Madeira, estado do Amazonas, tive a oportunidade de encontrar garrafas preservadas que repousavam no solo de áreas de margem e de cachoeira daqueles cursos fluviais. Não seria mera banalidade se os vasilhames encontrados apresentassem uma forma muito diferente daquela que estamos habituados a ver. Eram garrafas esverdeadas-claras, vidro bastante espesso, mas que tinham algo particular – seu fundo arredondado e duas inscrições em alto relevo, “Belfast” e “Ross’s”. Me chamou a atenção e correspondência o fato de ter visto previamente um similar exemplar exposto no “Museu do Forte”, na proximidade do mercado Ver-O-Peso, em Belém. Tratava-se, creio eu, de um objeto reliquiar que representava algum momento da história de ingresso de comerciantes e de produtos estrangeiros na Bacia Amazônica e cujo ponto de partida era a cidade de Belém. Deste modo, nasceu naturalmente o interesse em desvendar alguns dados sobre a origem dessas garrafas e seu elo com antigas áreas de seringal e de localidades onde certamente esse produto era comercializado no affair da borracha e de outros bens naturais amazônicos. A distância registrada entre as localidades dos achados nos rios Jaú e Aripuanã me chamou a atenção no que se refere ao período de tempo da comercialização e onde uma mesma mercadoria subia o rio Amazonas e chegava a vários pontos da Região Amazônica. O tempo de fabricação e circulação das garrafas de fundo arredondado, vinculado ao final do século 19 e início do século 20, é mais um registro do período de crescimento e fortalecimento das localidades de comercialização na região e que indubitavelmente chancelam um período da história de desenvolvimento do Amazonas. No caso específico dos rios Jaú e Aripuanã aqui relatados, é do conhecimento a existência pretérita na proximidade dos sítios onde as garrafas foram encontradas, de seringais e localidades tais como Airão (velho), Beneficente e Prainha (velho).
A segunda foto foi tomada recentemente na "estação das docas" em Belém, onde duas garrafas estão expostas junto a outros modelos de soda.


sábado, 16 de maio de 2009

Ianomâmi - alvo do "progresso"

Os Ianomâmis constituem um grupo linguístico que habita terras do Brasil (estados de Roraima e Amazonas) e Venezuela. Na porção brasileira, concentram-se principalmente ao longo dos rios Auaris, Parima, Urariquera, Mucajaí, Catrimâni, Demini e afluentes. Ocupam áreas montanhosas ou não, sendo que nas primeiras, costumam desenvolver sua lavoura, principalmente em serranias representadas por rochas básicas e ultrabásicas (gabros, peridotitos, piroxenitos, etc.) cuja alteração fornece um solo com aptidão à agricultura. Sendo assim, é comum observarmos por via aérea ou em produtos de sensoriamento remoto, vários desmatamentos circulares nos sopés daqueles tipos de serras.
Mantêm uma cultura muito peculiar e que os diferenciam de outros grupos linguísticos. O fato de habitarem uma grande fatia de terra (96.650 km2) respalda em sua área territorial a concentração de alguns bens minerais (ouro, cassiterita, sulfetos e terras-raras), o que tem evocado constantes debates sobre a legalidade ou não da extração mineral por parte de mineradoras. Essa ameaça se fez sentir no período de 1987 a 1991 quando o oeste de Roraima se deparou com uma desenfreada corrida de ouro e cassiterita, tendo à frente a abertura de mais de 160 pistas de pouso por parte de garimpeiros. Na ocasião, a zona fronteiriça entre Brasil e Venezuela, na serra Parima, foi palco de duvidosas ações por parte do exército venezuelano, já que muitos quilômetros de linha fronteiriça deixavam em dúvida a quem o território garimpado pertencia.
Um estudo de interpretação por foto-aérea e imagens de satélite veio apontar irregularidades no traçado de alguns trechos de fronteira (Santos & Reis 1992), tendo provocado a retomada de medidas de segurança através do adensamento dos marcos de fronteira pela Primeira Comissão Demarcadora de Limites - PCDL e a comissão venezuelana, em extenso trecho da serra Parima. Na época, os marcos mantinham um distanciamento de aproximadamente 3 km.
Medidas tomadas no início do Governo Collor levaram à desocupação da área Ianomâmi pelos garimpeiros, além da destruição de um grande número de pistas que serviam de apoio às frentes de garimpo. A área passou oficialmente a pertencer aos Ianomâmis (homologação).
Nos cabe refletir sobre os rumos que o planeta Terra vem tomando, sobre as grandes áreas de desmatamento e desertificação e na velocidade com que o homem vem depredando o meio ambiente. E até que ponto é racional pensar em sustentabilidade, se a ambição e o desejo de se fazer fortuna superam quaisquer premissas sobre a preservação animal e de seu habitat.
A foto abaixo foi tomada no ano de 1979, no baixo curso do rio Auaris, que junto ao rio Parima, formam o rio Urariquera.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Flanco Leste - serra Tepequém - Roraima



A serra Tepequém, ao norte de Roraima, permanece como um atrativo ao trekking. Expõe rochas sedimentares e vulcanoclásticas em uma interessante sucessão. Pacotes conglomeráticos depositados em um pretérito ambiente fluvial anastomosado tem sido responsabilizado pela concentração diamantífera, hoje aluvionar. A foto expõe um pequeno trecho do flanco leste da serra.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A Dama de Ferro no Paraíso Verde

Ontem (12/3) foi um dos melhores dias sonoros de Manaus após quase 31 anos de minha vivência em plagas manauaras. Então, por que não dizer um dia histórico?
Moro nos arredores do sambódromo e já me acostumei a conviver nos finais de semana com a demente sonoridade de grupos de pagode (que nunca serão uma banda!), de shows evangélicos, de boi-bumbás, carna-bois e escolas de samba.
Então de repente cai um raio que ilumina a área. Era o Iron Maiden de tantas tournées realizadas por aí e chegando quase sempre apenas no eixo Rio-São Paulo. Mas desde o ano retrasado que começamos a receber bandas internacionais por aqui. Algumas certamente mais pesadas (Helloween, Gammaray) e outras mais açucaradas (Scorpions, por duas vezes e Whitesnake).
Manaus, perto de seus 1,8 milhões de habitantes há algum tempo vem começando a cultivar o rock'n roll, a começar com o grande número de bandas cover que seguem caprichosamente ícones como o Iron Maiden, Black Sabbath, Doors, Queen e tantos outros. Foi numa dessas noitadas de sexta-cover que anos atrás fiquei conhecendo o Jarakillers* e toda a atmosfera do rock manauara.
(*) o jaraqui é um peixe muito apreciado pelos amazonenses. Do tipo-sardinha-bem-desenvolvida, frita, e sempre pedindo um acompanhamento de baião-de-dois e uma cerveja estupidamente. E é essa meninada que vem resistindo bravamente aos caprichos da terra em teimar que a música-do-boi (nada contra) deve ocupar os ouvidos do povo o ano inteiro (tipo axé-music).
E ontem foi uma tremenda adrenalina por aqui. O show que iniciava às 21 horas, já reunia a galera bem cedo. Era como o filho que procurando imitar as histórias que contaram do seu pai, iria ter a oportunidade de encontrá-lo pela primeira vez. E show de rock em Manaus tem sido sempre tranquilo. Não precisa fechar a rua, não precisa reforço policial, nada que seja muito estressante. Do jeito que o pessoal chega, é do jeito que o pessoal vai embora. Feliz da vida!
E veio a dama de ferro. O show foi muito bom e seguiu à risca aquelas tradicionais apresentações da banda, ou seja, levando hits pra' delírio da platéia e cultuando sempre o velho e bom rock'n roll, cheio de solos de guitarras, refrões e principalmente riffs. A característica voz do comandante Bruce e muitos clichês que a gente tem visto em algum show pela TV ou DVD. Tudo tão perfeito que parece simples.
Foram duas horas de show pauleira e com direito à entrada do Ed, o símbolo do Iron. Amanhã (sábado) é a vez do Rio e da Praça da Apoteose. Certamente, mais uma apoteose da banda!
Up The Irons!