
Nos anos de 2006 e 2007, em atividade geológica pelo Serviço Geológico do Brasil, em especial no rio Jaú, um afluente da margem direita do rio Negro, e rio Aripuanã, um afluente da margem direita do rio Madeira, estado do Amazonas, tive a oportunidade de encontrar garrafas preservadas que repousavam no solo de áreas de margem e de cachoeira daqueles cursos fluviais. Não seria mera banalidade se os vasilhames encontrados apresentassem uma forma muito diferente daquela que estamos habituados a ver. Eram garrafas esverdeadas-claras, vidro bastante espesso, mas que tinham algo particular – seu fundo arredondado e duas inscrições em alto relevo, “Belfast” e “Ross’s”. Me chamou a atenção e correspondência o fato de ter visto previamente um similar exemplar exposto no “Museu do Forte”, na proximidade do mercado Ver-O-Peso, em Belém. Tratava-se, creio eu, de um objeto reliquiar que representava algum momento da história de ingresso de comerciantes e de produtos estrangeiros na Bacia Amazônica e cujo ponto de partida era a cidade de Belém. Deste modo, nasceu naturalmente o interesse em desvendar alguns dados sobre a origem dessas garrafas e seu elo com antigas áreas de seringal e de localidades onde certamente esse produto era comercializado no affair da borracha e de outros bens naturais amazônicos. A distância registrada entre as localidades dos achados nos rios Jaú e Aripuanã me chamou a atenção no que se refere ao período de tempo da comercialização e onde uma mesma mercadoria subia o rio Amazonas e chegava a vários pontos da Região Amazônica. O tempo de fabricação e circulação das garrafas de fundo arredondado, vinculado ao final do século 19 e início do século 20, é mais um registro do período de crescimento e fortalecimento das localidades de comercialização na região e que indubitavelmente chancelam um período da história de desenvolvimento do Amazonas. No caso específico dos rios Jaú e Aripuanã aqui relatados, é do conhecimento a existência pretérita na proximidade dos sítios onde as garrafas foram encontradas, de seringais e localidades tais como Airão (velho), Beneficente e Prainha (velho).
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3 comentários:
Casca,
História interessante!
Como um pequeno e trivial (apesar da idade avançada) objeto pode nos dizer tanto sobre a história de um povo, de uma cultura, de um país.
Agora a pergunta que não quer calar:
- Como estas garrafas paravam "em pé" sobre a mesa?
Abraços,
--zm
Esta classe de garrafa de soda ou água mineral de fundo arredondado é bastante incomum, uma vez que era pretensão original fabricá-la de modo a não deixá-la de pé. Realmente a base arredondada foi um design ao contrário da maioria das garrafas, conduzindo a uma posição permanentemente horizontal onde a cortiça presa por um arame (tipo champagne)não pudesse sofrer ressecamento e fragmentar-se no seu interior, o que permitiria ao conteúdo líquido descarbonatizar e/ou evaporar.
Esses tipos de garrafa são comumente referidos como “sodas de fundo arredondado” ou “garrafas de lastro”, desde que, e provavelmente verdadeiro, a maior parte dessas garrafas eram importadas do Reino Unido como lastro (peso) em navios que retornavam para a América.
Bark é cultura!
Obrigado pela explicação.
Abraços,
--zm
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