domingo, 6 de dezembro de 2009

Dealing with the Jungle


Caramba! Foram alguns dias de operação com helicóptero na floresta, onde fui lançado em clareiras abertas por mateiros habilitados ao rapel. A partir delas saímos caminhando pela selva à procura de rochas. Foram muitos os vales e drenagens percorridos, muita sola de sapato gasta e muita adrenalina!

A gente adquire momentos de solidão e abandono quando o helicóptero se vai, retornando apenas no final do dia para o resgate.

E você caminha apenas com um auxiliar que corta o mato sob sua orientação de rumo a seguir. Utilizo bússola e um GPS. É ele que me orienta e corrige os desvios da bússola. É um amigão na selva. O deixo ligado o tempo todo e dificilmente perde o sinal do satélite.

Carregamos uma pequena marreta para extrair pedaços de rocha, uma bateia e uma peneira (suruca) para coleta de sedimentos em igarapés.

Recordo-me que há muitos anos atrás não possuíamos GPS e nossa orientação era penosa e nem sempre precisa. Utilizávamos telêmetros e fotografias-aéreas. O relevo, por vezes muito acidentado te leva naturalmente a realizar desvios através da vegetação mais densa e entrelaçada por cipós, além de grandes árvores que um dia tombaram pelo vento e arrastaram tantas outras juntas. Sem falar nas áreas alagadas (chavascais) onde você chafurda o pé em uma lama negra de desconhecida profundidade. Alguns pássaros piam ou cantam em um lamento que só a selva compreende. Nos chavascais dá para se ver pegadas de onça, anta e queixada. Sempre aguça a expectativa para o adiante.

Por vezes bandos de macacos lançam pedaços de pau e gravetos em quem se atreve a atravessar seu território.

A roupa fica inteiramente molhada de suor, em grande parte pela umidade que a floresta transfere para você.

E hoje tem rodada final do Brasileirão. Mas eu já me sinto um campeão!




segunda-feira, 27 de julho de 2009

Garrafa em forma de torpedo da Ross e sua relação com áreas de seringais e comercialização do Amazonas (áreas Jaú e Aripuanã)





Nos anos de 2006 e 2007, em atividade geológica pelo Serviço Geológico do Brasil, em especial no rio Jaú, um afluente da margem direita do rio Negro, e rio Aripuanã, um afluente da margem direita do rio Madeira, estado do Amazonas, tive a oportunidade de encontrar garrafas preservadas que repousavam no solo de áreas de margem e de cachoeira daqueles cursos fluviais. Não seria mera banalidade se os vasilhames encontrados apresentassem uma forma muito diferente daquela que estamos habituados a ver. Eram garrafas esverdeadas-claras, vidro bastante espesso, mas que tinham algo particular – seu fundo arredondado e duas inscrições em alto relevo, “Belfast” e “Ross’s”. Me chamou a atenção e correspondência o fato de ter visto previamente um similar exemplar exposto no “Museu do Forte”, na proximidade do mercado Ver-O-Peso, em Belém. Tratava-se, creio eu, de um objeto reliquiar que representava algum momento da história de ingresso de comerciantes e de produtos estrangeiros na Bacia Amazônica e cujo ponto de partida era a cidade de Belém. Deste modo, nasceu naturalmente o interesse em desvendar alguns dados sobre a origem dessas garrafas e seu elo com antigas áreas de seringal e de localidades onde certamente esse produto era comercializado no affair da borracha e de outros bens naturais amazônicos. A distância registrada entre as localidades dos achados nos rios Jaú e Aripuanã me chamou a atenção no que se refere ao período de tempo da comercialização e onde uma mesma mercadoria subia o rio Amazonas e chegava a vários pontos da Região Amazônica. O tempo de fabricação e circulação das garrafas de fundo arredondado, vinculado ao final do século 19 e início do século 20, é mais um registro do período de crescimento e fortalecimento das localidades de comercialização na região e que indubitavelmente chancelam um período da história de desenvolvimento do Amazonas. No caso específico dos rios Jaú e Aripuanã aqui relatados, é do conhecimento a existência pretérita na proximidade dos sítios onde as garrafas foram encontradas, de seringais e localidades tais como Airão (velho), Beneficente e Prainha (velho).
A segunda foto foi tomada recentemente na "estação das docas" em Belém, onde duas garrafas estão expostas junto a outros modelos de soda.


sábado, 16 de maio de 2009

Ianomâmi - alvo do "progresso"

Os Ianomâmis constituem um grupo linguístico que habita terras do Brasil (estados de Roraima e Amazonas) e Venezuela. Na porção brasileira, concentram-se principalmente ao longo dos rios Auaris, Parima, Urariquera, Mucajaí, Catrimâni, Demini e afluentes. Ocupam áreas montanhosas ou não, sendo que nas primeiras, costumam desenvolver sua lavoura, principalmente em serranias representadas por rochas básicas e ultrabásicas (gabros, peridotitos, piroxenitos, etc.) cuja alteração fornece um solo com aptidão à agricultura. Sendo assim, é comum observarmos por via aérea ou em produtos de sensoriamento remoto, vários desmatamentos circulares nos sopés daqueles tipos de serras.
Mantêm uma cultura muito peculiar e que os diferenciam de outros grupos linguísticos. O fato de habitarem uma grande fatia de terra (96.650 km2) respalda em sua área territorial a concentração de alguns bens minerais (ouro, cassiterita, sulfetos e terras-raras), o que tem evocado constantes debates sobre a legalidade ou não da extração mineral por parte de mineradoras. Essa ameaça se fez sentir no período de 1987 a 1991 quando o oeste de Roraima se deparou com uma desenfreada corrida de ouro e cassiterita, tendo à frente a abertura de mais de 160 pistas de pouso por parte de garimpeiros. Na ocasião, a zona fronteiriça entre Brasil e Venezuela, na serra Parima, foi palco de duvidosas ações por parte do exército venezuelano, já que muitos quilômetros de linha fronteiriça deixavam em dúvida a quem o território garimpado pertencia.
Um estudo de interpretação por foto-aérea e imagens de satélite veio apontar irregularidades no traçado de alguns trechos de fronteira (Santos & Reis 1992), tendo provocado a retomada de medidas de segurança através do adensamento dos marcos de fronteira pela Primeira Comissão Demarcadora de Limites - PCDL e a comissão venezuelana, em extenso trecho da serra Parima. Na época, os marcos mantinham um distanciamento de aproximadamente 3 km.
Medidas tomadas no início do Governo Collor levaram à desocupação da área Ianomâmi pelos garimpeiros, além da destruição de um grande número de pistas que serviam de apoio às frentes de garimpo. A área passou oficialmente a pertencer aos Ianomâmis (homologação).
Nos cabe refletir sobre os rumos que o planeta Terra vem tomando, sobre as grandes áreas de desmatamento e desertificação e na velocidade com que o homem vem depredando o meio ambiente. E até que ponto é racional pensar em sustentabilidade, se a ambição e o desejo de se fazer fortuna superam quaisquer premissas sobre a preservação animal e de seu habitat.
A foto abaixo foi tomada no ano de 1979, no baixo curso do rio Auaris, que junto ao rio Parima, formam o rio Urariquera.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Flanco Leste - serra Tepequém - Roraima



A serra Tepequém, ao norte de Roraima, permanece como um atrativo ao trekking. Expõe rochas sedimentares e vulcanoclásticas em uma interessante sucessão. Pacotes conglomeráticos depositados em um pretérito ambiente fluvial anastomosado tem sido responsabilizado pela concentração diamantífera, hoje aluvionar. A foto expõe um pequeno trecho do flanco leste da serra.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A Dama de Ferro no Paraíso Verde

Ontem (12/3) foi um dos melhores dias sonoros de Manaus após quase 31 anos de minha vivência em plagas manauaras. Então, por que não dizer um dia histórico?
Moro nos arredores do sambódromo e já me acostumei a conviver nos finais de semana com a demente sonoridade de grupos de pagode (que nunca serão uma banda!), de shows evangélicos, de boi-bumbás, carna-bois e escolas de samba.
Então de repente cai um raio que ilumina a área. Era o Iron Maiden de tantas tournées realizadas por aí e chegando quase sempre apenas no eixo Rio-São Paulo. Mas desde o ano retrasado que começamos a receber bandas internacionais por aqui. Algumas certamente mais pesadas (Helloween, Gammaray) e outras mais açucaradas (Scorpions, por duas vezes e Whitesnake).
Manaus, perto de seus 1,8 milhões de habitantes há algum tempo vem começando a cultivar o rock'n roll, a começar com o grande número de bandas cover que seguem caprichosamente ícones como o Iron Maiden, Black Sabbath, Doors, Queen e tantos outros. Foi numa dessas noitadas de sexta-cover que anos atrás fiquei conhecendo o Jarakillers* e toda a atmosfera do rock manauara.
(*) o jaraqui é um peixe muito apreciado pelos amazonenses. Do tipo-sardinha-bem-desenvolvida, frita, e sempre pedindo um acompanhamento de baião-de-dois e uma cerveja estupidamente. E é essa meninada que vem resistindo bravamente aos caprichos da terra em teimar que a música-do-boi (nada contra) deve ocupar os ouvidos do povo o ano inteiro (tipo axé-music).
E ontem foi uma tremenda adrenalina por aqui. O show que iniciava às 21 horas, já reunia a galera bem cedo. Era como o filho que procurando imitar as histórias que contaram do seu pai, iria ter a oportunidade de encontrá-lo pela primeira vez. E show de rock em Manaus tem sido sempre tranquilo. Não precisa fechar a rua, não precisa reforço policial, nada que seja muito estressante. Do jeito que o pessoal chega, é do jeito que o pessoal vai embora. Feliz da vida!
E veio a dama de ferro. O show foi muito bom e seguiu à risca aquelas tradicionais apresentações da banda, ou seja, levando hits pra' delírio da platéia e cultuando sempre o velho e bom rock'n roll, cheio de solos de guitarras, refrões e principalmente riffs. A característica voz do comandante Bruce e muitos clichês que a gente tem visto em algum show pela TV ou DVD. Tudo tão perfeito que parece simples.
Foram duas horas de show pauleira e com direito à entrada do Ed, o símbolo do Iron. Amanhã (sábado) é a vez do Rio e da Praça da Apoteose. Certamente, mais uma apoteose da banda!
Up The Irons!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Tepequém Mountain - A Nice Place to Stay

Esta é uma bela visão do setor sudoeste da serra Tepequém, Roraima. Este testemunho sedimentar há bilhões de anos atrás fazia parte de uma grande bacia e cuja maior área contínua está na atualidade representada pelo Bloco Sedimentar Pacaraima que recobre parte da Venezuela, Brasil e Guiana (ex-Inglesa) junto à linha de fronteira tríplice e onde se situa o Monte Roraima e o Monte Caburaí, este, nosso ponto mais setentrional.

A serra Tepequém forma um conjunto vulcânico, vulcanoclástico e sedimentar, cujo substrato está relacionado a uma caldeira de subsidência vulcânica (cauldron). Alguns flancos da serra revelam espessos pacotes de fanglomerados (leques aluviais) oriundos das paredes da caldeira (Reis et al. 2009). Um metamorfismo de muito baixo grau e suaves dobramentos associados a falhamentos registram eventos tectônicos tardios no intervalo 1,2 - 1,4 Ga.

O Tepequém constituiu uma área de intensa atividade garimpeira para ouro e diamante, com destaque para as décadas de 50 e 60. Naqueles idos, atingir seu topo só por trilhas e com a ajuda de tropas de burros no transporte de material e rancho. Algum tempo após foi construída uma pista de pouso para pequenas aeronaves. Daí veio a garimpagem mecanizada. Pacotes conglomeráticos monomíticos de uma fácies fluvial entrelaçada foram os responsáveis pela pretérita mineralização, hoje aluvionar.

Dois principais igarapés tem suas nascentes no Tepequém: Paiva e Cabo Sobral. A cachoeira da foto fica no igarapé Paiva e possui maior desnível na ordem de uns 250 metros. O curso d'água aparece de forma escalonada, com vários patamares de rocha arenítica bastante resistente. Esses patamares mostram acentuado mergulho das camadas para nordeste, cuja sucessão de rochas expõem suaves dobras em sinclinais e anticlinais. O termo tepuy ou mesa tem sido aplicado à essas exposições sedimentares.

O Tepequém é uma área sob proteção ambiental e possui dezenas de atrativos à sua visitação: belas cachoeiras, trilhas para trekking, paisagens, estrutura para camping & pousadas, abundante fauna e flora (savana), além de uma agradável temperatura que contrasta àquela da região de entorno (florestas e pastagens).

Dista aproximadamente 200 km da capital Boa Vista, se chegando por lá através de rodovias sempre asfaltadas e que inclui 100 km da BR-174 (Boa Vista - vila Paraima).

Se você quer saber mais deixe aqui seu comentário.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Locomotiva Zagaya & Futebol de Mesa

No período entre 1984 e 2001 (aproximadamente), ou seja, quase 20 anos, pratiquei o futebol de mesa em Manaus pela Associação Galáxia Jocamar de Futebol de Mesa. A regra adotada por aqui era a de três toques, mais interessante por exigir maior estratégia de jogo.
Por ser torcedor alvinegro carioca, passei a representar o Botafogo durante algum tempo. Com o amadurecimento do meu jogo e melhoria no time (botões mais leves e com características próprias) passei a adotar o nome original de Locomotiva Zagaya. Por esta época, vários outros técnicos também passaram a batizar seus times com nomes originais, caso do Jardim Botânico do grande botonista amazonense, José Carlos Matos.
E o Zé também era um dos fundadores da Jocamar e o principal articulador do futebol de mesa no Amazonas. Jogava bonito e com estilo e infernizava com seu camisa 10, o Edu.
Mas voltando ao Locomotiva, pude durante este período conquistar vários campeonatos pela Jocamar através de seus torneios que aconteciam ao longo de todo o ano. Daí participar de campeonatos amazonenses, de uma Copa Norte-Nordeste e de dois campeonatos brasileiros foi um pulo. Conseguí o título amazonense em 1989.
Bom, pra' matar as saudades, aqui vai a escalação do Locomotiva Zagaya: 1 - Aranha; 2 - Dom Pepe; 83 - Du Toit (o grande artilheiro do time); 4 - Della Santa; 5 - Da Silva; 6 - Cardoso; 7 - Mané; 8 - Gerson; 9 - Fritz; 10 - Zappa; 11 - Guimarães Galagão. No banco, 12 - Nelsinho Acarajé e 13 - Abdul Jabá. Bons tempos!

sábado, 31 de janeiro de 2009

Who wants yesterday's papers?

A revista alemã "Pop" era publicada nos anos 70, podendo ser adquirida em lojas e livrarias de revistas importadas. Na época não tínhamos muito acesso a material de rock, exceto algumas revistas relâmpagos como a "Música no Planeta Terra", Jornal da Música e o suplemento "A História e a Glória do Rock", a edição brasileira do "Rolling Stone" e colunas curtas nos principais jornais.
Por esta época, o rock progressivo emplacava com bandas do quilate de Genesis, Emerson Lake & Palmer, King Crimson e Yes e abria as portas para grupos principalmente holandeses, franceses, italianos e é claro alemães.
As matérias da Pop eram recheadas de entrevistas com pop stars, lançamentos de discos, tournées pela Europa e com magníficas fotos de bandas, vocalistas, guitarristas e shows ao vivo. E cada exemplar trazia um belíssimo poster que a gente não perdia tempo em afixar na parede do quarto. Apresentava também um Top Ten com os álbuns mais vendidos na Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. No número que acompanha as fotos do Carl Palmer e Greg Lake do ELP, tinham destaque Alice Cooper (School's Out), David Bowie (The Rise And The Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars), Elton John (Honky Chateau), Emerson, Lake & Palmer (Trilogy), T.Rex (Bolan Boogie), Rod Stewart (Never Dull a Moment), dentre outros. Na coluna Neue Platten (lançamentos) apareciam Catch Bull At Four (Cat Stevens), Changes (Catapilla), What a Bunch Of Sweeties (Pink Fairies), Long John Silver (Jefferson Airplane), Waka/Jawaka (Frank Zappa) dentre outras pérolas.
E matérias como Was ist los mit Black Sabbath? E até uma matéria sobre o Emerson Fittipaldi (Der andere Emerson). É isso aí, bons tempos quando nem a lingua alemã era empecilho para se saber um pouco mais.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Renaissance Discos

A Renaissance Discos em Petrópolis - RJ tem sido referência para quem curte o rock em toda a sua magnitude. Os amigos Cláudio e Pierre (da direita para a esquerda) são cicerockers (cicerones do rock) do vinil (uma especialidade da loja) ao CD/DVD.
Mais uma vez estive com essa rapaziada, o que incluiu no final das tardes ensolaradas da cidade imperial uma "Itaipava" bem gelada.
Fica a dica para quem quer adquirir material fonográfico analógico e/ou digital:
Pra'quem não sabe, a "Renaissance" nasceu através da paixão pela cognata banda progressiva inglesa e sua vocalista Annie Haslam. Por sinal, foi o Cláudio que a trouxe para um show no anfiteatro do Museu Imperial nos anos 90. Quer saber mais, deixe aqui seu comentário?